VIVÊNCIAS
DE SER PROFESSOR/A NO SUBPROJETO PIBID
Rita de Cacia Pereira dos Santos[1]
Silvana Ferraz Moraes[2]
Nara Noely Dorneles Martins[3]
Fernanda Leal Leães[4]
RESUMO:
Este artigo é
resultado de vivências de bolsistas pibidianas, na cidade de São Luiz Gonzaga e
traz uma primeira impressão sobre a atuação em sala de aula de bolsista do
projeto do PIBID. Procura-se enfatizar as dificuldades e acertos dentro daquilo
que antes tínhamos acesso apenas como discentes de graduação e agora temos uma
visão de dentro da escola, sob a ótica de professores/as. Coloca-se nesta
produção que existe um significado real para o vocábulo professor/a, que vai
além do dicionário, porque, em muitos casos existe a transformação do sapo em
príncipe ou princesa, mas também pode ocorrer o contrário. Desta forma o
subprojeto, “Da Discência à Docência: a Boniteza de ser Professor/a”, que nos
possibilita desenvolver práticas, nos proporciona uma janela para um mundo
muitas vezes apenas vislumbrado à longa distância, sem muita atenção. Através
do PIBID pode-se compreender que ser professor/a vai muito além do que se pode supor,
porque a profissão transcende à pessoa.
Palavras
– Chave:
PIBID;
Vivências Docentes; Discência; Escola.
Será
que alguém já se indagou qual o verdadeiro significado de ser professor/a?
Certamente
esta indagação está presente em todos/as que desejam seguir esta profissão, em
profissionais que estão atuando e em teóricos e muitos/as que se arrolam o
direito de se chamarem especialistas em educação. Ouso dizer que ser
professor/a é ter telhado de vidro, ser vitrine, exposição e expositor; é ser
grande e pequeno ao mesmo tempo na dualidade de ensinar e aprender vivências e
saberes. Também vai muito além do significado expresso no vocábulo que está no
dicionário e na repetição e consenso diário.
Ser
professor/a é aprender a ser sapo, sem deixar de ser príncipe ou princesa,
porque o primeiro está despojado de toda a vaidade de ser superior àqueles que
os rodeiam em busca de um saber que pode ser compartilhado por todos/as,
enquanto o segundo é um personagem de contos de fadas, que parece tão
inatingível e tão longe da realidade que o cerca como as estrelas que brilham
no firmamento, tão próximas dos olhos, mas longe do alcance das mãos. Rubem
Alves é certeiro em seus textos, colocando o encantamento de ser docente, na
prática rotineira de atuar com gente, com o sentimento, com o amor de abrir as
portas e janelas para a aprendizagem escolar.
[...] Por ele se
apaixonou uma bruxa horrenda que o pediu em casamento. O príncipe nem ligou e a
bruxa ficou muito brava. “Se não vai casar comigo, não vai se casar com ninguém
mais!” Olhou fundo nos olhos dele e disse: “Você vai virar um sapo!” Ao ouvir
essa palavra, o príncipe sentiu uma estremeção. Teve medo. Acreditou. E ele
virou aquilo que a palavra de feitiço tinha dito. Sapo. Virou um sapo. [ALVES,
2007, p.33].
Nossas
vivências no PIBID – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência –
desenvolvido pela CAPES em parceria com o MEC, tem-nos colocado frente a uma
realidade para a qual alguns/as de nós ainda não estávamos preparados/as: a
dificuldade de manter um/a aluno/a em sala de aula. Na verdade, não estávamos
preparados/as para entender o significado de ‘manter’ um/a aluno/a em sala de
aula, quando a escola deve ser um local de aprendizagens, num processo
contínuo.
Desta
forma o subprojeto da UERGS – Unidade São Luiz Gonzaga “Da Discência à
Docência: a Boniteza de ser Professor/a”, do qual fazemos parte, nos
proporciona uma janela para um mundo que muitos de nós apenas vislumbrávamos de
longe, de dentro da Universidade e interagindo na escola apenas com práticas
curriculares. Isso nos leva a viajar no
tempo e no espaço para abrir a janela do conhecimento de par em par e observar
as diferenças e semelhanças entre teorias e práticas adotadas por
professores/as, das escolas onde atuamos, vivenciando a práxis diária, o fazer
em tempo real.
O meu envolvimento com a
prática educativa, sabidamente política, moral, gnosiológica, jamais deixou de
ser feito com alegria, o que não significa dizer que tenha invariavelmente
podido criá-la nos educandos. Mas, preocupado com ela, enquanto clima ou atmosfera
do espaço pedagógico, nunca deixei de estar.
Há uma relação entre a
alegria necessária à atividade educativa e a esperança. A esperança de que
professor e alunos juntos podemos aprender, ensinar, inquietar-nos, produzir e
juntos igualmente resistir aos obstáculos à nossa alegria. [FREIRE, 2002, p.
29].
Essa
janela que chamamos de PIBID, possibilita observar a escola por dentro, fato
que pode despertar ou não o encantamento do ato de professorar. Vivenciar a
rotina escolar ajuda a encarar a profissão, com a certeza de que é possível a
transformação ou perder o interesse em tornar-se professor/a porque nos
deparamos com o fato de que não existem milagres em educação. É importante que
se tenha em mente a seguinte frase do Mestre Paulo Freire: “Ensinar não é
transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria
produção ou a sua construção” O precisa haver é comprometimento e amor
daquele que se propõe a ser professor/a. Essa paixão precisa ser renovada a
cada dia, para que os objetivos não se percam nas curvas do tempo ou sejam
levados pelos ventos do desânimo.
[...] daí então, que a
nossa presença no mundo, o nosso mover-se nele e na história vem envolvendo
necessariamente sonhos por cuja realização nos batemos.
Daí então, que a nossa
presença no mundo, implicando escolha e decisão, não seja uma presença neutra,
a capacidade de observar, de avaliar para, decidindo, escolher, com o que,
intervindo na vida da cidade, exercemos nossa cidadania, se erige então como
uma competência fundamental. [...]. [FREIRE, 2000, p.16].
A
experiência de atuar nesse subprojeto do PIBID, como bolsistas, é muito
importante e elucidativa. É difícil classifica-lo em uma única categoria, pois,
tanto pode ser pesquisa, uma vez que coletamos dados através da observação e da
conversa com aqueles/as que atuam como professores/as; como ensino, porque
aprendemos a ver o funcionamento da escola sobre a ótica do/a professor/a, e
extensão, porque trocamos conhecimentos, vivências e experiências com alunos/as e educadores/as. O PIBID mostra
na prática a indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão. Por isso a
importância deste estímulo à docência, desta preocupação do Ministério da
Educação, na busca de incrementos aos cursos de Licenciatura.
Um
país que decide não investir em educação, futuramente colhe os frutos do descaso.
Seus habitantes acabam vivendo na miséria ou na apartheid social, porque na
verdade, a educação em qualquer esfera deve servir para todos/as, de forma
igualitária e sem preconceitos, o que pode – e deve- acabar com a ideia de que apenas
uns poucos privilegiados podem ser os detentores do saber enquanto outros/as não precisam sequer saber assinar o
nome, para poderem desta forma ser conduzidos pelo cabresto, de uma minoria.
Neste
sentido o PIBID reforça o compromisso com a formação inicial e a educação
básica, pois ao ingressarmos nas escolas, levamos o ideário de uma educação
transformadora, com sonhos e possibilidades e mesclamos aos acontecimentos da
escola, ao fazer diário, perguntando, conversando e propondo participação em
seminários, relatos de encontros e propostas de cursos. Essa janela que se abre
se abre para todos/as os/as envolvidos/as neste processo.
Educar,
por tudo isso, é fundamental, e qualquer país que quiser existir sobreviver
neste chamado “Mundo Globalizado” precisa investir em educação para seus
habitantes. Educar é saber viver no mundo real, se comunicar sabendo que o
passado serve como base no presente para que se possa construir um futuro
melhor, com menos desigualdades sociais. Educar é possuir tudo o que a
humanidade acumulou ao longo de sua história.
Na
janela aberta pelo PIBID, entendemos que é preciso que um/a professor/a seja
movido/a pela utopia e pela esperança de que se possa fazer algo para mudar a
realidade em que se vive de forma a melhorar a qualidade de vida dos seres
humanos através de uma educação de qualidade, porque sem esperança um/a
professor/a não consegue levar a termo seus objetivos.
Pensar que a esperança
sozinha transforma o mundo e atuar movido por tal ingenuidade é um modo
excelente de tombar na desesperança, no pessimismo, no fatalismo. Mas,
prescindir da esperança na luta para melhorar o mundo, como se a luta se
pudesse reduzir a atos calculados apenas, é pura cientificidade, é frívola
ilusão. Prescindir da esperança que se funda também na verdade como qualidade
ética da luta é negara ela um de seus suportes fundamentais. [...] É por isso
que não há esperança na pura espera, nem tampouco se alcança o que se espera na
espera pura, que vira, assim, espera vã. [FREIRE, 1992, p. 5].
No
transcurso destes primeiros meses de observação foi possível entender a
colocação de Paulo Freire, pois, não existem práticas pedagógicas que subsistam
à desesperança, principalmente de professores/as que atuam diretamente em sala
de aula.
Apenas
observar não foi suficiente nestes primeiros meses, também sentimos desejo de
participar juntamente com as professoras[6] da
confecção de materiais didático-pedagógicos, onde os/as alunos/as foram a parte
mais atuante e participativa.
Observamos
a cada nova produção, o brilho de ansiedade em cada olho, a expectativa pela
aprovação, ou não, de seus trabalhos, de suas produções textuais, das caixinhas
decoradas e o sorriso de satisfação enfeitando seus rostos cheios de esperanças
e certezas, felizes por cumprirem com as tarefas solicitadas.
Desta
forma, o/a professor/a reconhece que o/a
aluno/a possui potencial para crescer como gente que reconhece e é reconhecido,
que valoriza e é valorizado, pela sua
leitura de mundo, suas vivências e experiências.
Esta
vocação para o ser mais que não se realiza na inexistência de ter, na
indigência, demanda liberdade, possibilidade de decisão, de escolha, de
autonomia. Para que os seres humanos se movam no tempo e no espaço no
cumprimento de sua vocação, na realização de seu destino, obviamente
não no sentido comum da palavra, como algo a que se está fadado, como sina
inexorável, é preciso que se envolvam permanentemente no domínio político,
refazendo sempre as estruturas sociais, econômicas, em que se dão as relações
de poder e se geram as ideologias. A vocação para o ser mais, enquanto
expressão da natureza humana fazendo-se na História precisa de condições
concretas sem as quais a vocação se distorce. [FREIRE, 2001, p. 8].
Uma
escola como o Instituto Estadual de Educação Professor Osmar Poppe, situada no
centro do município de São Luiz Gonzaga, com mais de mil alunos/as, requer uma
estrutura bem organizada e um planejamento com um cronograma que precisa ser
cumprido à risca, sob pena de que a improvisação possa resultar em um desastre
e uma grande decepção para todos/as e, mais ainda, para aqueles que estão
atuando em sala de aula: professores/as.
Um/a
pibidiano/a precisa ter em mente que não é o/a aluno/a que está atuando, mas
um/a futuro/a professor/a, que terá sob sua responsabilidade turmas que estão
ávidas por aprender e que se espelham em suas atitudes e conhecimentos.
Para
atuar na carreira docente, ser professor/a é preciso levar em conta que nem
sempre a remuneração será aquela esperada, mas que a carreira encante aqueles
que se dispõem a olhar a educação sem preconceitos ou cifras, voltando-se
apenas para o ato de ensino-aprendizagem. Logicamente sem descuidar das
questões funcionais que nos envolvem, mas que estas questões não sejam a
desculpa para não realizar as tarefas de ser professor/a, com a alegria e
paixão que exige qualquer profissão.
A
UERGS, o Curso de Pedagogia, mas principalmente, o PIBID coloca-nos diante da
esperança e do encantamento por ser professor/a, mesmo com todas as
dificuldades encontradas, mas que se possa superá-las e traçar o caminho para
que proporcione uma educação de qualidade e com igualdade a todos/as. São nos
dizeres das colegas professoras, na felicidade de acompanhar a leitura de uma
criança no primeiro ano do ensino fundamental que vem o encantamento, mas é
também na união, no grupo, quando discute e analisa questões de trabalho, é no
suporte que as equipes gestoras apresentam, é na vida que circula, é na alegria
de receber e ser recebido, é neste fazer diário que vem essa esperança, não no
sentido de espera, mas na crença de que seremos professores/as que faremos a
diferença na escola.
Porém
necessitamos entender que somente a esperança e o sonho não se realizam
sozinhos se não nos dispusermos a lutar por aquilo em que acreditamos, mesmo
que inicialmente possa parecer um fato longínquo, quase inatingível.
Acreditamos
que, para ser professor/a não se deve levar em conta o “eu”, mas pensar no
“outro”, como uma extensão daquilo que pretendemos desenvolver enquanto seres
atuantes em sala de aula. É colocar-se no lugar do outro e descobrir a melhor
forma de satisfazer a sua curiosidade e sua ansiedade em aprender os saberes
escolares e do mundo que os cerca, através do sonho de compartilhar vivências.
Todo conhecimento começa
com o sonho. O sonho nada mais é que a aventura pelo mar desconhecido, em busca
da terra sonhada. Mas sonhar é coisa que não se ensina, brota das profundezas
do corpo, como a alegria brota das profundezas da terra. Como mestre só posso
então lhe dizer uma coisa. Contem-me os seus sonhos para que sonhemos juntos.
[ALVES, Rubem]
Um/a
professor/a que entrar em seu ambiente de trabalho armado de preconceitos e
indiferenças, certamente terá uma carreira fadada ao fracasso porque ninguém
aprende nada, se aquele/a que se dispuser a compartilhar os conhecimentos não
estiver desprovido da armadura da soberba ou do achismo. O entendimento de que
o outro não é um selvagem e desgarrado, torna-se fundamental para que haja uma
sintonia e aproveitamento do que se ensina e se aprende. E, isto se aplica tanto
para os/as alunos/as quanto para os/as professores/as.
Precisamos
tomar cuidado para que a bruxa do desencanto não faça morada em nossos seres e
nos tornemos exatamente igual àqueles professores/as que tanto criticamos.
Precisamos acreditar que a magia da transformação pode agir também para o bem,
o contrário, transformar o príncipe, crédulo e desanimado em alguém alegre e
disposto a lutar pelo que acredita.
O
que faremos de nossas aprendizagens ou como as usaremos de forma a não
deixá-las “encantadas” nem “enfeitiçadas” depende do quanto estamos dispostos a
apostar no que acreditamos. Para perder o medo e apaixonar-se pela profissão,
quebrando paradigmas e construindo saberes, cabe
a cada um/a de nós encontrar a “fórmula mágica” que é composta por coragem,
respeito e humildade, para que sejamos pessoas que buscam apaixonar-se por ser
professor/a, independente das bruxas e fantasmas que possam nos assombrar.
Por
fim, em conversas com o grupo, em alguns momentos de nossa atuação no
subprojeto do PIBID, chegamos a nos sentir como o Príncipe Sapo, mas nos damos
conta de que se a bruxa do desânimo tentar nos fazer acreditar que não somos
capazes de realizar o que é planejado, ao mesmo tempo a fadinha das descobertas
joga seu pozinho mágico e nos faz lembrar que tudo é possível se houver paixão
por aquilo que se realiza, comprometimento e união.
REFERÊNCIAS
ALVES, Rubem. A
Alegria de Ensinar. Campinas: Papirus, 2000.
_____________. Frase disponível em: http://pensador.uol.com.br/frase/NjkzMzc3/,
acesso: 19/04/2012.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da
Esperança: Um reencontro com a Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1992.
___________. Pedagogia da Indignação:
Cartas Pedagógicas e outros escritos. São Paulo: UNESP, 2000.
____________. Política e Educação:
Ensaios. 5ª ed. São Paulo: Cortez, 2001.
[1]Acadêmica do Curso de Pedagogia –
Licenciatura – UERGS – São Luiz Gonzaga. Bolsista PIBID/CAPES UERGS, no
Instituto Estadual de Educação Professor Osmar Poppe.
[2]Acadêmica do Curso de Pedagogia –
Licenciatura – UERGS – São Luiz Gonzaga.
Bolsista PIBID/CAPES/UERGS, no Instituto Estadual de Educação Professor
Osmar Poppe;
[3] Acadêmica do Curso de Pedagogia –
Licenciatura – UERGS – São Luiz Gonzaga. Supervisora do Subprojeto PIBID/CAPES/UERGS,
no Instituto Estadual de Educação Professor Osmar Poppe;
[4] Professora da UERGS, Unidade São Luiz
Gonzaga; Coordenadora do Subprojeto PIBID/CAPES/UERGS em São Luiz Gonzaga,
orientadora da pesquisa.
[5]
Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação à Docência, desenvolvido pela CAPES em parceria com o MEC.
[6]
Todas as professoras que atuam nos
anos iniciais do ensino fundamental da escola são mulheres.
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